02 dezembro, 2011

dezembro devia começar no 3

Eu sabia que o dia não ia ser fácil. Eu sabia que não ia querer acordar e sabia que quando acordasse não ia querer permanecer acordada. Sabia que ia saber na perfeição o dia em que me encontrava e que isso me ia magoar. Eu sabia antecipadamente que, hoje, iria sentir saudade daquilo que foi imperfeito demais para um pretérito. Sabia que me ia abaixo e que ia acabar por explodir num choro compulsivo que há muito me proíbia ter. Sabia de tudo, quando ontem me apercebi que o dia seguinte era hoje e que hoje era um mau dia. Mas ainda assim, quando o despertador tocou, eu quis levantar-me da cama, quis sentir a dor que sabia que me esperava, quis sentir a vontade de correr para um buraco escondido e passar lá o dia, quis voltar a sentir as lágrimas saírem num turbilhão dos meus olhos, atropelando-se umas às outras e proibindo-me de ver focadamente, quis voltar a soluçar enquanto sufucava com as palavras que teimavam em não sair. Por hoje, mesmo sabendo antecipadamente do estado em iria ficar, quis sentir os farrapos em que o meu coração já se encontrou. E quis, quis muito, que hoje pudesse sentir, nem que fosse só um pedacito, aquilo que há um ano atrás sentia e que hoje me é totalmente desconhecido. Quis. Mas passei a desconhecer tanto tais sentimentos, que só consegui chorar por ter saudades de os sentir. Só consegui soluçar e sofucar-me com palavras que nem tenho. E assim que pude, refugiei-me num canto meu, em que ninguém pudesse ver de verdade o estado em que eu própria me quis deixar. Um canto diferente daquele em que há um ano atrás me refugiei, quando fiquei num estado parecido mas dessa vez, um estado em que alguém me deixou. E foi aí que percebi, que tudo à volta mudou. Os refúgios, eu, tu, o tempo, os espaços, os sentimentos... Só uma coisa se manteve inalterável. A minha constante queda para o masoquismo pessoal, em datas que já nem me devia lembrar.
*deixei de pensar, não sei é deixar de me lembrar