Tenho saudades tuas. Tenho saudades dos tempos que tínhamos antes do dia em que tudo se perdeu ter chegado. Já não sei nada sobre ti, sobre o que te passa nessa cabeça, onde e com quem estás, e muito menos o que és, mas ainda assim tenho saudades tuas. Será que mudaste muito? É possível? Todos os dias ao acordar, sou obrigada a olhar para as muitas coisas que deixaste espalhadas por aqui e, ao contemplá-las, sei que eu pelo menos ainda não mudei. E talvez seja por isso que ainda tenho o teu quadro na parede, as tuas fotos nas molduras, a tua caixa debaixo da cama, os teus desenhos afixados, a tua escova no lavatório, as tuas roupas no armário e o teu nome no meu pensamento. E por mais que me custe lidar com tudo isto, sei que me vai custar ainda mais no dia em que tudo isto desaparecer e for obrigada a lidar com o vazio que sobrou de ti. Por isso deixo. Deixo tudo como está. Deixando apenas que a única coisa que se altere, seja o pó que se vai acumulando em cima do tudo teu que ainda aqui permanece e que, pelo que sinto, ainda vai permanecer durante algum tempo. Deixo. Deixo que tudo o que aqui deixaste me continue diariamente a dar saudades tuas e que me faça querer todos os dias, um bocadinho mais, correr para ti.
